ao poeta Marco Polo Guimarães
O sol no meio da tarde
Não fere faca afiada de prata
Não sangra e incendeia
Como o inferno dos dias
No calor dos meses sem chuva.
É um sol assim assado
Sem brasa e brilho
Um raio X de luz medonha
Laser radioativo como vento
Voltagem elétrica sobre a cidade
De rostos e corpos nas avenidas
E ruas e pontes do centro do Recife
Como uma povoação de zumbis
Multidão morena sem cor
Legião de brancos calcários
Intensa e esquelética luz caiada
Nas peles sem palidez humana
Lavadas e descarnadas
Banho ácido sobre a nudez coletiva
Luz atômica letal desfigurando
O corpo da tarde da cidade.
(Maio, 2005)